sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Capítulo II - Facere praesagitio!

Três dias depois. Anyne estava, há alguns minutos, deitada no tapete de sua sala. O cheiro de absinto do incensário exalava pela casa. "The litle things" tocava no sim da morena. Ela havia praticado yoga e agora descansava ouvindo música. A campainha toca. Uma visita inesperada deixaria a fisioterapeuta desconcertada.
"Olá." "Olá, minha filha. Boa tarde!" "Boa tarde. A senhora é a..." "Harmonia Reis, prazer!" "Prazer, dona Harmonia. Em que posso ajudá-la?" "Eu posso entrar?" Anyne acha estranho o pedido um tanto nervoso da cartomante. "Pois não..." "Obrigada!"
Harmonia era uma senhora de aparência bem exótica. Tinha por volta dos 60 anos. Cabelos quase brancos e o rosto envelhecido. A criançada de Alvorada poderia jurar que ela era uma bruxa. Usava sempre um véu cinza ou preto sobre a cabeça e falava pausadamente. O povo de Alvorada acreditava que ela já devia ter quase uns 80 anos, dada à aparência envelhecida.
Havia sempre os mais "sabidinhos" que juravam já ter entrado na casa dela e visto um gato preto, um caldeirão e uma vassoura velha. Alguns diziam que ela era a própria "bruxa do 71 de Alvorada". Outros diziam ainda ter certeza absoluta que ela havia feito pacto com o diabo.
Fofocas à parte, Harmonia era, de fato, uma figura mítica e folclórica naquela cidadezinha.
Entretanto, ela era uma mulher muito sábia. Havia curado alguns doentes em Alvorada. Harmonia era a autêntica "rezadeira da cidadezinha do interior"... Só não podia cruzar com uma pessoa: o filho Caio! Este renegava a mãe de todas as formas...
"Então, dona..." "Harmonia..." "Isso! Harmonia..." "Você nunca mais esquecerá meu nome, menina." Anyne sente um calafrio. "Por que, dona Harmonia?" "Isso você saberá mais tarde... O tempo, meu querubim... O tempo! Aquele que cura todas as feridas... O grande mestre!" "Desculpa, mas a senhora tá me assustando..." "Não, não, querida. Não se acanhe não, vixi! Eu lhe quero bem, muito bem..." "Que bom né?!" - A gata sorri meio sem graça.
A velha segura as mãos dela e lhe diz... "A bela morena sabe que eu sou dada às previsões, não sabe?!" "Pois quem não sabe disso?!" "Muito bem. ouça, minha filha. ouça atentamente." O coração de Anyne parece querer sairpela boca. "Que foi?" "Teu homem. Ele corre perigo!" A moça se faz de boba: "Meu homem?" Harmonia arregala os olhos. "Oxe, tu não se faça de besta, menina! Sei melhor que ninguém nesta cidade do teu relacionamento com o professorzinho."
Anyne respira fundo e passa a mão pelos longos cabelos. "Como a senhora soube disso?" "Não importa, garota. Entenda uma coisa: há algo que liga você e o biólogo... Algo que vai além desta vida e um dia tu descubrirás o que te falo. Não é a toa essa paixão que vocês dois têm pela natureza..." "E o que há por trás disso?" "Já disse. Não faça tanta pergunta. O tempo, querubim! Lucas corre perigo." "Que tipo de perigo?" "Eita, sou mísitca, mas não sou profeta, vixi?!" "Tudo bem... Eu posso ajudá-lo?" "Só você pode ajudá-lo!" "Mas como?" "Acalme teu coração, menina! Você precisará de calma. Calma e amor. Muito amor!"
Harmonia segura no queixo de Anyne e se aproxima do rosto dela. A gata percebe as rugas e a expressão assustadora daquela senhora. "Posso lhe perguntar uma coisa, moça?" Gaguejando, ela responde: "Po-pode!" "Você gosta mesmo desse rapaz?" "Do Lucas?" Claro." "Sim. Eu o amo!" A expressão facial de Harmonia muda para um sorriso acolhedor. "Por que dizes que o amas?" "Ai, ele me faz me sentir especial, sabe?" "Especial?" "É... Eu me sinto bem perto dele. Me sinto protegida. Me sinto realizada."
"Ai, o amor... Ser jovem e amar... Eita fase boa!" "A senhora já amou, dona Harmonia?" "Já, minha filha... Amei demais um homem que não valia nada! Foi o pai dos meus filhos..." "Quantos filhos a senhora tem?" "Oxe, já basta de perguntas por hoje! Minha vida já está chegando ao fim, e não vim aqui pra falar dela..." "Nossa... Chegando ao fim... A senhora é tão pessimista!" "Não, menina-índia. Só faço previsões!" "E nesssas previsões o que a senhora viu?" "Você gosta de fazer perguntas né?! Tudo tem seu TEMPO! Ele é sábio..." "Ok..." "Me leva até a porta, querubim?" "Claro!".
----------------------------
Eram seis e meia. O sol estava se pondo em Alvorada. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, nosso casal amado está voltando para o quarto do hotel, depois de uma deliciosa piscina aquecida. São nove e meia da noite em Amsterdam.
"Thay, pega uma roupa pra mim na mala por favor?" "Tá, amor..." A gata estava secando os cabelos e vai atender ao pedido do marido. "Serve a blusa roxa e dourada e a calça jeans?" "Tá ótimo, meu amor!" Thaynam chega ao banheiro e o chão está todo molhado. "Crianção, dá pra fazer menos bagunçaaaa?" "Tudo bem, esposa mais neurótica do mundoooo!" "Tá aqui sua roupa, amor..." "Aí sobre a pia? Vem cá..." "Ah, eu tô secando o cabelo, bebê!" "Eu não vou te molhar, só quero a roupa..."
A mulher, que já conhecia bem o marido, vai pé ante pé até o blindex da banheira. Ela olha pra ele toda comedida e estende a toalha. "Toma..." Ver a mulher a um metro e meio de distância da banheira segurando a toalha a qual estava enrolada pra não molhar e com outra na mão... Isso faz com que Lucas caia na gargalhada. "Pára, seu bobo! Pega logo essa droga de toalha..." Lucas olha pra ela e ri ainda mais. É a vez de Thaynam dar risada da situação. "Só você mesmo, Lucas... Toma a toalha..." O biólogo estende a mão bem devagar e agarra o pulso da esposa, puxando-a.
O trabalho de secar os cabelos havia ido por água abaixo. Literalmente! A bela foi parar dentro d'água com toalha e tudo... "Ai, eu mato você, Lucas!" Ele faz cara triste e pergunta: "Mata, amor?" (beijo) "Não, bobo! Mas que eu te dou uns tapas, eu dou..." Lucas abraça a mulher, que se arrepia toda.
Em questão de minutos, Thaynam estava sentada sobre seu colo. Lucas a beijava voluptuosamente. "Amor, eu tenho que voltar a secar meu cabelo..." Lucas levanta da água e a coloca contra a parede. Ele começa a beijar a sua nuca, enquanto as mãos dele acariciam a barriga da esposa. Ele deixa a língua passear pela nuca da mulher, e suas mãos já estão nos seios dela. A língua de Lucas desce pelas costas dela deixando-a louca. O movimento frenético que essa língua fazia nas costas de Thaynam a faziam pensar nos seus sonhos mais loucos. Sentir a excitação do marido a excitava em dobro.
Subitamente, Lucas solta a esposa e deita na banheira de novo. "Amor, você disse que precisava fazer o que? Secar os cabelos?" Thaynam desperta e olha nos olhos dele. O canto do sorriso safado do marido instiga o lado provocativo da morena. Ela o puxa da banheira pelos mamilos, e ele faz cara de desentendido. "Que foi, bebê?" Um beijo sufocante responde a pergunta dele. As unhas da gata o arranham com vontade e ele não demonstra uma expressão de dor sequer. "Faz de novo?" Thaynam morde o lábio inferior de Lucas e diz: "Cachorro! Gostou né?!" "Gostei? Talvez... Nem tive tempo de sentir nada..." "Ah, Lucas, agora você vai ver o que é sentir alguma coisa." Ele a abraça forte e ela trança as pernas sobre a cintura dele, que sai da banheira em direção ao quarto.
O banheiro, que molhado estava, agora nem se fala. Aquela seria uma noite em que o frio holandês nem seria tão intenso... Ou talvez não seria percebido!
----------------------------
Alvorada. Bahia. Seis e meia. Com o sol se pondo, Luciana faz a sua caminhada na praça. Modelito de ginástica e mp3 no ouvido. Padre Ítalo conversava com algumas crianças. O fato atípico de Harmonia sair da grande casa de Anyne chama atenção de alguns olhares curiosos. Luciana, mascando chiclete, aperta o passo e caminha logo atrás da esotérica.
"Saindo da casa de Miss Natureba, coroa?" Harmonia pára. Reconhecendo a voz, ela vira e encara a nora. "Como me chamaste?" "De coroa, oxe. Não é isso que você é, uma velha mal acabada?" "Você? A senhora! Lava a tua boca antes de falar comigo..." Luciana ri. "Tu é meio pancada das idéias mesmo né não?" Harmonia puxa Luciana pelos fios do fone do mp3. "Escuta aqui. O que eu fiz na casa da morena não é da tua conta, perua fútil!"
Luciana quase tem um ataque do coração. "Perua eeeeeu?" "Perua sim! Quem nessa cidade usaria uma roupa de ginástica assim, rosa fluorescente? Só você mesma, menina!" "Mas tá lindinha, vixi?!" Harmonia faz cara de pena e lamentação. "Você é e sempre será uma lata vazia." "Lata? Só se for de Coca Zero." Luciana mastiga mais rápido. "Lata vazia, coisa burra. Daquelas que só fazem barulho, mas são completamente ocas por dentro."
Luciana dá de ombros. "Quero ver a senhora falar isso quando eu virar primeira-dama do Estado." Harmonia respira fundo e fecha os olhos. O tempo fecha e uma ventania passa por Alvorada. A perua até sente frio. Arregalando os olhos, Harmonia diz: "Pois em verdade eu lhe digo, menina. Caio Reis nunca será governador de Estado enquanto eu estiver viva!" Morrendo de medo, Luciana rebate: "Então veremos!"
As árvores da praça balançam bastante. Harmonia abre as mãos como se fosse lançar um feitiço sobre a nora. "Enquanto eu existir sobre essa terra, e puder gritar aos quatro cantos dessa cidade as falcatruas do teu marido, ele não conseguirá mais nada na vida política."
Luciana engole a seco. "Maldita bruxa!" - pensa ela, mas sequer ousa a falar. Harmonia fecha as mãos e cruza os braços. O vendaval começa a diminuir e o céu volta a ficar limpo.
"Agora chispa daqui antes que eu transforme você numa rã fedorenta..."Luciana ensaia um choro. Harmonia estende a mão na direção dela e fecha os olhos. Antes que ela dissesse algo, a perua já estava dobrando na outra esquina.
Harmonia ri e volta a caminhar. "Ola... Tola, fútil e infantil. A mulher ideal para o meu filho mesmo!" A velha caminha um pouco mais. "Boa tarde, padre!" "Boa tarde, dona Harmonia. Como vai a senhora?" "Bem, obrigada... Fique na paz o senhor..." "Vá na paz a senhora também..."
Duas religiões distintas. Duas pessoas distintas. Duas visões de mundo distintas.
Uma única forma de tratamento. Apenas uma: o respeito mútuo!
É... O mundo ainda precisava aprender muito com aquela cidadezinha perdida no litoral brasileiro.

5 comentários:

Unknown disse...

q isso hein minino!!
bem q vc falou q naum era pra menores!huahuahuaha
quanta criatividade e riqueza d detalhes!!
tah d parabéns lindOO!!
beejOO

Anônimo disse...

O que vai acontecer com ele?
Até eu fiquei com medo dessa
mulher... Parabéns esse conto
tá demais!!! Vc tá me surpreendendo
cada vez mais. Bjos!!!

Anônimo disse...

Gato!!
Muito bom...vc é inteligente por demais...
É muito lindo a facilidade com que vc escreve...
estou super curiosa pra ver o enredo desse conto...
Ah adorei a parte da banheira...

Anônimo disse...

olá...capítulo dois cheio de malícias,rsss, na cabeça e no corpo... os personagens criam vida...a história se movimenta e onde dará issu?!!!!srss, vamos esperar, como diz Harmonia,o TEMPO é o antítodo de tudo!!!1 abraços e mãos à obra.

Lô A. disse...

Essa mulher eim...enigmática por extremo!!
Bacana ter expressado o jogo sedutor na banheira...ficou bem legal!
Como ficará essa história?!?!
Beijo,

Lorena