terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Capítulo VIII (Conto II)

Naquela manhã, a casa de Anyne estava no mais absoluto silêncio. As luvas da fantasia de mulher-gato ainda estavam pelo sofá e a camisa de Lucas no canto da sala. A claridade no quarto deixava o ambiente ainda mais belo. Lucas respira fundo, e admira a amada durmindo, com a cabeça em seu peito. O sono leve da gata fazia com que ele respirasse bem devagar, com receio de acordá-la. Era tão gostoso vê-la adormecida sobre o seu peito! Lucas não queria sair dali por nada.
O dia amanhecia com um sol revitalizante e convidativo, quando o celular do professor vibra sobre o criado-mudo ao lado de cama e ele se apressa em atendê-lo para não despertar o anjo de seu soninho.
“Oi, Helena! Bom dia!” “Bom dia, querido! Desculpe ligar cedo, mas tenho notícias... Boas e más!” “Começa pelo pior, vai...” “Bem, Thaynam já me ligou três vezes porque você não deu sinal de vida desde ontem. Lucas, pelo amor de Deus, quando você for pra casa de Anyne, primeiro me avise pra eu não dar mancada quanto a sua mulher e segundo ligue pra ela pra dizer que você “chegou bem” ao seu destino.” “Pode crer...” “Você conhece bem a esposa que tem, meu lindo! Ela fica preocupada se não ouve sua voz por mais de algumas horas...” (risos) “Obrigado pelos toques, amiga! E a parte boa seria...?” “Oficialmente Preservação da Mata Atlântica já é uma organização regulamentada! Já estamos em funcionamento!” “Ai, que benção ouvir isso, minha amiga! Fico muito feliz!” “Fique feliz, mas ao mesmo tempo prepare-se, porque já começamos a trabalhar hoje.” “Alguma notícia de Caio?” “Sim! O prefeito terá uma coletiva hoje, no salão do Paladium Hotel, para tratar dos planos do Águas de Alvorada Resort.” “Precisamos agir então, Helena! Esse resort não vai sair do papel...” “Já liguei pra todos da ONG e vamos armar um barraco lá hoje! (risos)” “Será que protesto é a melhor opção?” “Querido, será uma coletiva com os poderosos do empresariado baiano. Não creio que os empresários fiquem satisfeitos em ver oposição ao projeto do prefeito, veiculada ainda em rede nacional...” “Pode apostar que não!” “Nos reuniremos ao meio-dia, Lucas, na sede da organização.” “Tudo bem. Vou passar em casa agora, tomar um banho e te encontro lá em 1h e meia.” “Fechado, professor!” “Beijos, anjo!”.
O biólogo levanta-se cuidadosamente. Admira por mais um tempo a bela durmindo... A respiração leve e calma. Ele, então, passa a mão nas peças de roupa e parte para casa, deixando apenas um bilhete: “Uma noite perfeita com uma mulher mais-que-perfeita. Te amo!”. Lucas dá a volta na praça quando avista dona Harmonia. Ele pára o carro e estende a mão para cumprimentá-la.
“A benção, mainha!” Com um sorriso materno, Harmonia se aproxima do carro e põe a mão direita sobre a sua testa. “Deus lhe abençoe, professor!” “À senhora também, vixi, mainha!” “E onde vais tão cedo, filho? Não estás na universidade hoje?” “Eu e Helena vamos fazer uma mobilização em frente ao Paladium, querida, porque o seu filho estará com a coletiva do resort...” “Aquilo já deixou de ser meu filho há anos!” “Bem, mainha, seja lá como for, preciso ir...” “Que Nosso Senhor lhe guie, filho!” “Inté, mainha...”.
Dez minutos depois, Lucas entra em casa. “Meu amor, eu já estava aflita! Onde você estava?” “Thaynam, eu saí de casa não faz nem 24 horas. Estava sem sinal onde eu estava e o celular não estava funcionando bem.” “Ai, amor, liga do hotel pelo menos pra dizer que chegou bem da próxima vez...” “Ok...” – responde Lucas abraçando a esposa e beijando-lhe o pescoço. “Promete?”. “Ai, Thay, prometo!” – a mulher abre um sorriso ao mesmo tempo que beija o marido apaixonadamente.
“Gatinho, você chegou e já vai sair?” “Vou com Helena e o pessoal da ONG pra manifestação no Paladium.” “Aquele mimado do Caio não desistiu dos planos de construção do resort?” “Ao que tudo indica não, meu amor!” “E o povo ainda vota no cara! Brasileiro não sabe votar mesmo né?!” “Nós, brasileiros, aprendemos a votar por conveniência, meu amor! Infelizmente...” “Infelizmente mesmo!”. Lucas toma banho, enquanto Thaynam conversa com ele sentada no chão do banheiro, lixando as unhas. “Amor, chegou uma correspondência pra você hoje bem cedo...” “De onde?” “Sem remetente, gato!” “Estranho...” – responde um pouco intrigado. “É...” – fala a mulher concentrada nas próprias unhas.
Lucas sai do banho e escolhe uma roupa, enrolado na toalha. Joga a carta em sua pasta, quando o telefone vibra. “Mais-que-perfeita foi a noite, seu bobo! Também te amo!”. O professor abre um sorriso e Thaynam pergunta o que foi. Lucas desconversa, mas a mulher não engole a desculpa.
Não duraria meia hora para, então, Lucas estar saindo de casa e a esposa sentir um cheiro diferente na roupa que ele havia tirado e jogado no cesto. A psicóloga podia apostar que seu sexto sentido lhe dizia alguma coisa...

Um comentário:

Anônimo disse...

ameiiii como sempre... Não desanime de viu! Quero saber o que tem naquela carta, se a mulher do Lucas vai descobrir a amante dele... Beijos!