quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Vivendo com persona

Oi. Meu nome é Pedro Luís. Sou brasileiro, solteiro e complexo. Tenho 27 anos. Não que minha idade seja avançada, mas certamente tem um peso na minha história de vidas que contarei aos leitores desse blog. Na primeira década do século XXI, eu levo uma vida grega! Grega porque minha perfomance diária é digna dos atores atenienses em épocas remotas...
Ah, eu não sou apenas eu! Eu sou eu e sou "ele"... "Ele" porque existem dois "pedros" num só! Olha, que espetáculo! Quando a platéia espera anciosa por minha atuação, eu entro com "persona", a máscara que me confere uma outra personalidade. E então eu falo, grito, converso, gesticulo, brinco, dou risada, corro, sofro, pulo, durmo e... E morro! Aproveito-me também, diariamente, da lição que nos trouxe a mitológica Fênix: eu sempre morro, para então renascer!
Afinal, hoje é Natal neh?! Pois é... Dia de morrer! Por mais que minhas palavras induzam o leitor a crer que estou volvendo-me louco por falar em MORRER no Natal. Mas, pensemos bem: morramos todos para renascermos! Ainda que das próprias cinzas!!! Enterremos nossos mortos, deixemo-los partirem, possamos dar-lhes o merecido descanso. E permitamos que renasça aquele fio belíssimo de esperança, verdinho verdinho, que se encontra lá dentro de nossos corações...
E quanto à persona, voltemos... É bem verdade que eu deveria ser um caso para o doutor Freud. Sigmund ficaria fascinado em analisar o meu caso. É por essas e outras que digo que algumas pessoas deveriam ser imortais... É... Alguns seres humanos como Sigmund Freud não poderiam morrer jamais! Entretanto, é a lei da vida! O circle of life, o ciclo da vida, como diria nosso amigo Simba...
Argumento, destarte, por um motivo muito simples: sofro de múltiplas personalidades! Não que eu mude meu humor com facilidade como alguns, irritantemente, o fazem. Lo que pasa es que pareço ter me viciado em leituras do tipo Dr. Jekyll and Mr. Hyde! Há vários indivíduos aprisionados aqui dentro... Há vários "pedros" que entram em conflito a todo instante... E confessar-lhes-ei: essa "síndrome de Fernando Pessoa" mata, ainda que aos poucos, mas mata! É um estranho e deprimente caso clínico.
Lembro-me, por um instante, do meu poema favorito: AUTOPSICOGRAFIA, do Pessoa. É um textinho pequeno, mas sempre me chamou a atenção. Observemos:
AUTOPSICOGRAFIA (F. Pessoa)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Há duas dores no poeta. Ou seriam dois poetas para uma dor única? Enfim, fato é que essas duas "coisas" convivem aqui dentro. Brigam, com certa freqüência, vale dizer... Mesmo porque, como afirma Pessoa, há uma dor que o poeta NÃO tem. Essa dor, após ser criada, ela vai se tornando cada vez mais e mais real. Até que chega um ponto em que naturalidade e artificialidade (em termos de dor) se tornam conceitos indissociáveis. O poeta não distingüe se a dor que está sentindo naquele momento é a dele ou é a criada... E é bem verdade que, no fim das contas, ele acaba sofrendo por ambas!
E tem mais... Não é apenas a dor que é criada (e recriada). Os personagens também! Só que, após algum tempo, a persona não sai mais do rosto... A máscara gruda, com o suor da pele, no rosto do ator. E, a partir desse ponto, fica quase impossível que Mr. Hyde volte a ser Dr. Jekyll. Ele não consegue! As personalidades acabam se fundindo... E mais complexo: o ser que seria o misto entre Jekyll e Hyde ama e odeia chocolate. Os gostos, os ódios, os amores, os rancores, as paixões, as emoções, tudo se funde! Resulta que o estágio final desse "ser" não responde às leis da razão (seja lá quais forem essas!)...
Some a isso o fato de o "monstrinho" ter que usar seu lado "Jekyll" (o lado do "disfarce") para a pessoa mais importante em sua vida. Ufa! Essa é a parte mais complexa de todas! Usar um pseronagem com pessoas amadas. Seria tão mais fácil se a dita pessoa aceitasse ver o que há por trás daquela máscara. E aceitar como ela é!
Mas não... As pessoas curtem ser enganadas e gostam de máscaras. Preferem o conforto que o "papel" traz ao estresse que o "real" produziria. Confesso também que há uma certa irritação em meu tom de voz ao descrever essa parte da minha vida. Tenho uma vontade de dar umas sacudidas na pessoa e dizer: "Acorda, vê que esse não sou eu...". Mas acho que não adiantaria. Ainda que eu atirasse a máscara no chão (como já tentei), ela pegaria a máscara de volta e diria "Põe isso na cara agora mesmo! E nunca mais ouse a tirar a persona do rosto!".
O que me resta é pegar a máscara de volta e pôr no rosto outra vez. Abaixo a cabeça então e saio da sala, com o rabo entre as pernas. Ao que parece, as pessoas querem saber da Donatela, não interessa quem seja ou como esteja a Cláudia Raia. É mais fácil para as pessoas fazerem chacota que o casamento da Suzana Vieira era uma piada porque ela era uma velha pra ele do que pararem para observar, no próprio rosto daquela mulher nas capas de revistas, o sofrimento pela perda do ex-marido.
Mas que diabos pensam essas pessoas? Ah, como poderia me esquecer?! A onipotência humana... O homem é programado para ser máquina! E atender a todos os anseios da sociedade: como diria um livrinho de Ciências: (assim como as plantas) o ser humano nasce, cresce, se reproduz e morre...
Será? E se eu tirar a máscara? Olha que eu tiro hein?!

4 comentários:

Lô A. disse...

Perfeitamente querido!!
As pessoas são tão tolas, tão mesquinhas, ao ponto de se acomodarem nas máscaras ao invés de encararem a realidade de frente e de braços abertos pra o que quer que venha!Mas há casos, ainda, que pessoas te acusam de usar máscaras sem você nem se quer pensar em tal ato!
Meu lindo, infelizmente as pessoas não se importam.É, elas não se importam, e o que mais dói é que isso é fato!!
Lindo será quando as máscaras, efim,puderem se descolar do suor do rosto.E não será uma audácia,não!!Será, sim, pq poderemos ser quem realmente somos.Sem máscaras pra quem as usa, ou quem usa pq colocam, ou quem nem se quer usa, mas leva tal nomenclatura injustamente.
Excelente post!!
Beijos...

Lorena

Anônimo disse...

As pessoas preferem viver num mundo de máscaras, por medo de aceitar o que julgam diferentes, assim obrigam quem ta do seu lado a usar uma máscara falsa! Obrigando a pessoa mentir para quem ama... As pessoas que dizem que nos ama, nos obrigam a viver mundo de mentiras. Que pessoas egoísta, mesquinhas. Mas nunca devemos admitir que nunca nos faça usar uma máscara que não seja nossa!Bjus

Franci disse...

Infelismente há pessoas que não conseguem enxergar o óbvio, não veem as mascaras colocadas nas pessoas e qnd veem preferem uma doce ilusao a uma amarga realidade e com isso elas enganam a elas mesmas, mas o pior é qnd elas descobrem a verdade, descobrem q viveram uma farsa tdo esse tempo...
Textu maravilhosooo!

Bjao meu lindu!

TiagoGP_ disse...

Recordei-me muito do grande Machado e sua idéia da vida como um baile de máscaras. Infelizmente, é uma triste realidade em que vivenos. Porém, façamos como dito no início do texto, e renasçamos nessa época linda, porém há muito desvirtuada de seu verdadeiro sentido, que é o Natal. E que no ano novo, sigamos o conselho de São Paulo: Despojai-vos do homem velho e revesti-vos do novo!